domingo, 31 de julho de 2011



e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

al berto

NeoPop '11 @ Viana do Castelo








Junior Boys


GasLamp Killer

Modeselektor




sexta-feira, 29 de julho de 2011

descalços de areia


«No alto da duna o Búzio estava com a tarde. O sol pousava nas suas mãos, o sol pousava na sua cara e nos seus ombros. Ficou algum tempo calado, depois devagar começou a falar. Eu entendi que falava com o mar, pois o olhava de frente e estendia para ele as suas mãos abertas, com as palmas em concha viradas para cima. Era um longo discurso claro, irracional e nebuloso que parecia, com a luz, recortar e desenhar todas as coisas. Não posso repetir as suas palavras: não as decorei e isto passou-se há muitos anos. E também não entendi inteiramente o que ele dizia. E algumas palavras mesmo não as ouvi, porque o vento rápido lhas arrancava da boca. Mas lembro-me de que eram palavras moduladas como um canto, palavras quase visíveis que ocupavam os espaços do ar com a sua forma, a sua densidade e o seu peso. Palavras que chamavam pelas coisas, que eram o nome das coisas. Palavras brilhantes como as escamas de um peixe, palavras grandes e desertas como praias. E as suas palavras reuniam os restos dispersos da alegria da terra. Ele os invocava, os mostrava, os nomeava: vento, frescura das águas, oiro do sol, silêncio e brilho das estrelas.»

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Homero", in Contos Exemplares

quarta-feira, 27 de julho de 2011

aqui



«há o desejo, que não tem limite, e há o que se alcança, que o tem. a felicidade consiste em fazer coincidir os dois... e entre os dois, no conflito do dois, na não-aceitação de um e de outro, escrevemos histórias, realizamos filmes... criamos. sentimos.»

vergílio ferreira



far



and as I sat there listening to that sound of the night which bop has come to represent for all of us, I thought of my friends from one end of the country to the other and how they were really all in the same vast backyard doing something so frantic and rushing-about.

jack kerouac, on the road

terça-feira, 26 de julho de 2011

131




E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.



Herberto Helder, photomaton & vox

estrada



all the papers and the fumes
they're all of you
they stay alive
and inside the things we knew


segunda-feira, 25 de julho de 2011

monika


ingmar bergman, 1953

"ontem à noite
sonhei de corpo inteiro
– acordei com teu cheiro"

milhões de festa '11, ou as coisas simples da vida são sempre as melhores


é inacreditável como a partir do nada se consegue um ambiente tão fabuloso, bandas incríveis e um dos melhores lugares para realmente se ouvir música, onde ninguém vai para marcar presença ou ser visto. esta maravilha escondida devia ser elevada a património cultural. e ver elementos dos tigrala a fazer crowd surf durante radio moscow valeu muito mais do que qualquer cartaz das operadores de telemóveis ou marcas de cerveja gigantes que por aí andam.




FM Belfast




we trust






green machine (tenho um novo herói)


electrelane

washed out


radio moscow

sexta-feira, 22 de julho de 2011

a ver concertos de molho

maier, vivian

o'hara


.......
sabia que ele não gostava
dissera-lhe
vira
quando atropelou um homem que literalmente se deitou para cima do seu carro
desatou a chorar e a tremer
não conseguiu fazer nada
ele é que a acalmou
mas
1:39 AM ao ver os bombeiros a reanimarem a mãe sem sucesso no chão do quarto
ficou imóvel
virou as costas
e não disse nada
fechou a porta para o pai não entrar e ligou à irmã
a dizer que era melhor vir ter a casa do pai.
chorou uma semana depois.
1:40 AM e hoje também.
naquele dia é que não.
somos humanos todos
de certa forma reagimos de acordo com a urgência do momento
e essencialmente
segundo quem está à nossa volta
no momento.
desapego....
um dia, quem sabe...

1:41 AM faz-lhe falta.
e no dia em que sentiu que ia embora
e não dizia uma palavra
egoísta foi em chamar a atenção para ela
com tanto que tinha que fazer e cuidar

consegue ver até onde pode ir com elas, com as emoções?

sente-se um juíz
mais do que um observador

observador sim, mas actuante
1:48 AM
nem tanto ao mar, tipo ela, nem tanto à terra, tipo ele
ela que se deixa levar nas ondas do mar
ele que tem os pés agarrados à terra ;)
meio-meio




quarta-feira, 20 de julho de 2011

adorei-te esta

Agora, que a vidinha vai tão escassa, o remédio era a literatura. Pois que espere. Vou tentar dormir.


Luiz Pacheco

Diário Remendado
© Dom Quixote

we carry on


foto: fabrice pinto

The taste of life I can't describe
It's choking on my mind Reaching out I can't believe Faith it can't decide On and on I carry on But underneath my mind And on and on I tell my self It's this I can't disguise Oh can't you see Holding on to my heart I bleed the taste of life The pace, the time, I can't survive It's grinding down the view Breaking out which way to choose A choice I can't renew Holding on I carry on But underneath my mind And on and on I tell my self It's this I can't disguise Oh can't you see Holding on to my heart I bleed, no place is safe Can't you see the taste of life

portishead

terça-feira, 19 de julho de 2011

(Su)Risos #2

«é maior? então já não grita pela mãe, pois não?...»

vou mandar bordar esta naquela já famosa mala

mulher maçã



noutros tempos

quando acreditávamos na existência da lua

foi-nos possível escrever poemas e

envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído

pelas salivas proibidas - noutros tempos

os dias corriam com a água e limpavam

os líquenes das imundas máscaras



hoje

nenhuma palavra pode ser escrita

nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras

ou se expande pelo corpo estendido

no quarto do zinabre e do álcool - pernoita-se



onde se pode - num vocabulário reduzido e

obcessivo - até que o relâmpago fulmine a língua

e nada mais se consiga ouvir



apesar de tudo

continuamos e repetir os gestos e a beber

a serenidade da seiva - vamos pela febre

dos cedros acima - até que tocamos o místico

arbusto estelar

e

o mistério da luz fustiga-nos os olhos

numa euforia torrencial



Al-Berto
Horto de Incêndio

pela estrada fora



And I wished for so long...cannot stay.
All the precious moments...cannot stay.
It's not like wings have fallen...cannot stay.
But still something's missing...cannot say.

Holding hands of daughters and sons,
And their faiths are falling down.
I have wished for so long...
How I wish for you today.

Will I walk the long road? Cannot stay...
There's no need to say goodbye...

All the friends and family.
All the memories going round.
I have wished for so long.
How I wish for you today.

And the wind keeps rollin',
And the sky keeps turning gray.
And the sun is set...
The sun will rise another day.

I have wished for so long...
How I wish for you today.
I have wished for so long...
How I wish for you today.

Will I walk the long road?
We all walk the long road...

eddie vedder

SBSR '11 - O Iraque aqui tão perto


um dia antes, o melhor pôr-do-sol

na véspera, o iraque ainda limpo
mas nem tudo eram rosas...



sempre calor


e o nascer da lua para as melhores horas do dia
nicolas jaar, repetido, mas o primeiro inteiro do fest. e ali em baixo... eeerr... digamos que era do pó.


beirut




tim sweeney e lykke li, ela a valer a troca pelos monkeys. que eram repetidos e já vimos por um canudo :D

a fechar um dia perfeito, dançar!


segundo dia a abrir com caminhada a digerir bem o almoço :)
há quem diga que eram 4 quilómetros. eu digo que as pernas mediram mais :)


a expressão do gabriel diz tudo.


a lua cheia e aquele teu concerto, caracolinhos :)

a perfeição em dose dupla: portishead e arcade fire.


chromeo a fechar e mais um dia pela frente.









todos juntos finalmente! o teu brandon, gi! elbow, dançar até cair para o lado com villalobos e mais uma boleia no regresso.

pois, quase perdi as melenas do alex e não, não vi slash :)
strokes lá em cima foi estranho. mas deu para recordar 2005 (ou seria 06 aquele maravilhoso e irrepetível Lisboa Soundz??)

apetecia-me mesmo voltar ali.
não pelo pó nem pelos encontrões, mas pela certeza de estarmos juntos outra vez. era bom sinal :)


mas aqui ao norte, o neopop e paredes não demoram. estão ao virar da esquina. até já!